Cabelos loiros são mais comuns em pessoas de pele clara, assim como os negros têm tendência a nascerem com os cabelos escuros e crespos. Apesar dos fatos serem os mais comuns, em uma região da Oceania é possível encontrar negros com cabelos naturalmente loiros. O visual incomum chamou a atenção de pesquisadores das Universidades de Stanford, de Bristol, da UC San Francisco e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, que levaram aproximadamente quatro anos de planejamento e estudo para descobrir o porque de muitos habitantes negros da Melanésia, região da Oceania, terem cabelos claros. Os resultados atraíram a curiosidade de diversos membros da comunidade acadêmica e então, o geneticista Carlos Bustamante decidiu publicar a pesquisa na revista "Science".
10% da população nativa de pele negra tem cabelos loiros naturais
Antes da série de estudos, os cientistas acreditavam que tal fenômeno dava-se por fatores externos, como exposição ao sol ou uma dieta rica em peixe - alimento muito consumido na região. Outra explicação seria a herança genética de ancestrais distantes - mercadores europeus que passaram pelos arquipélagos.
A equipe do geneticista Carlos Bustamante, recolheu saliva e pigmentação do cabelo de 1000 moradores das Ilhas Salomão - com atenção especial para um subconjunto, formado por 43 loiros e 42 pessoas de cabelos escuros. Com a quantidade significativa de material, conseguiram rapidamente identificar um gene responsável pela variação de cor, chamado por TYRP1. Esse gene é conhecido por influenciar a pigmentação nos humanos e sua variante encontrada nos fios loiros dos habitantes da Ilha, é exclusiva aos melanésios.
Em um texto publicado em seu próprio site, o professor da Dalhousie University frisou: "cabelos loiros, portanto, surgiram pelo menos duas vezes durante a evolução humana: uma vez nos ancestrais europeus e outra vez no extremo oposto da terra, nos ancestrais melanésios. Isso representa um fascinante exemplo de evolução convergente: quando o mesmo resultado (cabelo loiro) é realizado por diferentes meios (variantes genéticas independentes)".
Bons resultados para a medicina no futuro
Ainda de acordo Myles, em um texto publicado no blog do pesquisador, a descoberta expande a área de atuação da pesquisa genômica médica - que, segundo ele, concentra-se quase que exclusivamente sobre as populações de origem européia: "gastamos bilhões de dólares em busca de genes subjacentes a determinadas doenças em uma pequena fração da diversidade humana, que se concentra em países ricos. Variações, como a encontrada na Melanésia, provavelmente existem em todo mundo, em populações sub-representadas. E isso não afeta apenas a pigmentação do cabelo, mas também em traços relacionados a doenças. Num futuro da medicina personalizada, onde os médicos irão analisar as sequências genéticas dos pacientes para criar drogas sob medida, os indivíduos de origem europeia seriam mais beneficiados" acredita o pesquisador.
Matéria publicada em 13 de Abril de 2021, por Webedia.